segunda-feira, 5 de novembro de 2018

EUA: Partido Republicano, inimigo do direito de voto


              Nesta eleição de meio de mandato nos EUA, o exercício do direito de voto em sua expressão mais elementar tem estado sob forte ameaça.
             Editorial do jornal Washington Post publicado no dia 31 de outubro resume bem o fenômeno.
            Ao longo da última década, por obra do partido Republicano em postos de poder no âmbito estadual, o exercício do direito de voto por norte-americanos pobres ou pertencentes a minorias raciais tem sido dificultado ao máximo, sob a falsa justificativa do combate à fraude eleitoral.
            O editorial começa por citar o Estado da Geórgia como protótipo do criador de dificuldades, com regras exageradamente restritivas do direito de voto. Assim, o Estado suspende do cadastro de eleitores nomes que não são grafados de modo idêntico em todos os bancos de dados do governo. Basta faltar um hífen ou outra mínima discordância para que o nome seja suspenso do cadastro de eleitores. E uma análise feita pela Associated Press concluiu que as minorias são as mais afetadas por essas medidas. Eleitores com o registro suspenso podem votar mesmo assim, mas podem ser levados a pensar que não podem.
            O Estado da Geórgia também possui regras estritas em matéria de identificação do eleitor, admitindo apenas uma lista reduzida de  documentos. Se não apresentar um desses documentos, o eleitor pode votar, mas o voto só será contado se em três dias do dia da eleição o eleitor apresentar um dos documentos exigidos.
            Em Dakota do Norte, o artigo aponta a existência de regras sobre a identificação do eleitor que ameaçam o direito de voto de nativos que vivem em reservas rurais sem um endereço com rua e número. Em New Hampshire o alvo são os estudantes, com a instalação de seções eleitorais para voto antecipado fora dos campi das universidades. No Alabama, há normas estritas sobre identificação do eleitor – mas também a possibilidade de reconhecimento do eleitor pelos mesários, o que dá margem a uma aplicação racista dessa exceção.
            No Kansas, conforme o editorial do Post, as autoridades eleitorais locais removeram a única seção de votação de Dodge City para bem longe da área central de sua crescente população latina.
            Desde 2013, quando a Suprema Corte invalidou o coração do Voting Rights Act,  houve o fechamento de centenas de seções eleitorais em todo o país.
            O artigo aponta que Estados como Iowa e Carolina do Norte reduziram o período de voto antecipado. Em junho deste ano, a Suprema Corte manteve uma lei de Ohio que exclui do cadastro de eleitores quem deixa de votar. Ao mesmo tempo, a Louisiana impede de votar as pessoas com suspensão condicional da pena (probation e parole). Na Flórida quem foi condenado por crime grave não pode votar mesmo depois de ter cumprido a pena integralmente.
            Mas o editorial assinala que há motivos para ter esperança. Na Flórida, por exemplo, a denegação do direito de voto aos condenados por crime grave vai ser agora submetida a consulta popular. Alguns Estados, como Oregon e Califórnia, têm facilitado o exercício do direito de voto. Melhores políticas no campo do direito de voto poderão ser adotadas por todo o país se as Casas Legislativas no âmbito estadual mudarem de mãos.
       Em conclusão, o editorial pergunta, uma vez que a fraude eleitoral é praticamente inexistente nos EUA, por que os Republicanos têm dificultado tanto o exercício do direito de voto no país 



Referência:

Editorial Board. Republicans’ great enemy: Voters. The Washington Post, 31 de outubro de 2018. Disponível em:  <https://www.washingtonpost.com/opinions/republicans-great-enemy-voters/2018/10/31/ef41db0a-dc77-11e8-b3f0-62607289efee_story.html?noredirect=on&utm_term=.106bfd9708d2>. Acesso em: 5 nov. 2018.