Na próxima terça-feira 8 de novembro os
cidadãos norte-americanos irão às urnas escolher os grandes eleitores que comporão
o colégio eleitoral que elege o/a presidente da República.
De fato, como se sabe, nos Estados
Unidos a eleição para presidente da República é indireta.
Os pais
fundadores da democracia norte-americana instituíram o colégio eleitoral como
uma solução de compromisso entre dois diferentes métodos de escolha do
presidente. Inicialmente, alguns delegados na Convenção Constitucional
de 1787
propunham que a escolha do presidente competisse ao Congresso, enquanto que
outros defendiam a eleição pelo voto popular direto. A proposta de eleger o
presidente pelo Congresso foi combatida pelos que defendiam uma maior separação
de poderes e a independência do presidente em relação ao Congresso. Por outro
lado, a eleição pelo voto popular direto era temida pelos que consideravam que
ela subjugaria os Estados menos populosos. Com o desenrolar da Convenção
Constitucional, os fundadores instituíram um “Comitê dos Onze” para encontrar
uma solução de compromisso aceitável para a escolha do presidente. O método que
eles propuseram, centrado no colégio eleitoral, teve ampla aceitação,
especialmente entre os Estados escravocratas do Sul. Isso porque os escravos,
embora não tivessem o direito de voto, contavam cada um como três quintos de
uma pessoa para o fim de calcular a população do Estado. Com isso, os escravos
contribuíam para aumentar a participação desses Estados no colégio eleitoral
sem no entanto influir no resultado da eleição popular. A proposta suscitou
portanto pouca controvérsia e levou Alexander Hamilton a formular seu célebre
veredicto: “o modo de escolha do primeiro magistrado dos Estados Unidos é quase
a única parte do sistema, com alguma consequência,
que escapou sem censura severa (...) eu não hesito em afirmar que se o método
não é perfeito, ele é pelo menos excelente”.
Assim,
no dia
da eleição popular, os americanos não votam
diretamente em um candidato a presidente, muito embora muitos sequer
se deem
conta disso, pois na cédula o que aparece é o nome dos
candidatos a presidente e a vice, precedidos no mais das vezes por uma linha
fina onde
se lê: “eleitores de”. Desse modo, os eleitores populares de
cada Estado elegem na realidade uma lista de grandes eleitores comprometidos
com um ou outro candidato, para integrar o colégio eleitoral.
Os partidos políticos dos candidatos que aparecem na cédula designam cada um
sua lista de grandes eleitores para cada Estado, em número igual ao número de
votos do Estado no Colégio Eleitoral. Quando um candidato vence a eleição
popular num dado Estado, na realidade foi eleita a lista de grandes eleitores
indicada pelo seu partido.
O
número de grandes eleitores de cada Estado no Colégio Eleitoral é igual ao
número de senadores federais e deputados federais desse Estado. Cada Estado tem
dois senadores federais e um número de deputados federais proporcional à sua
população, atualizado a cada dez anos. O Distrito de Colúmbia, que não é
representado no Congresso, tem três votos eleitorais, número mínimo de grandes
eleitores por Estado.
Uma das
mais importantes regras a disciplinar a eleição do presidente da República nos
Estados Unidos é estadual e não federal. De fato, cabe aos Estados dizer, com
base no resultado do voto popular, como deve votar cada um dos grandes
eleitores. Na grande maioria dos Estados, a lei determina que os votos
eleitorais devem ser dados aos candidatos a presidente segundo a regra de que
“o vencedor leva tudo” (winner-takes-all), isto
é, o candidato a presidente que vencer a eleição popular no Estado deve receber
todos os votos eleitorais.
Em
dezembro, este ano no dia 12, os grandes eleitores se
reunirão nas capitais
dos respectivos Estados para votar para presidente e vice, o que
significa
que o colégio eleitoral como um todo nunca chega a se reunir.
Para vencer, o candidato precisa obter a maioria absoluta dos 538 votos eleitorais que representam os 50 Estados e o Distrito de Colúmbia. A maioria absoluta, como se sabe, é o primeiro número inteiro acima da metade, isto é, pelo menos 270 votos. os votos são selados e enviados ao presidente do Senado. em 6 de janeiro, o presidente do Senado abre os envelopes selados contendo os votos dos grandes eleitores e os lê em voz alta.
A principal crítica dirigida ao modo de escolha do presidente da República nos Estados Unidos deve-se ao fato de que não é impossível que o candidato mais votado pelos eleitores populares termine por perder a eleição no colégio eleitoral. Esse fenômeno já ocorreu quatro vezes na história americana, em 1824, na eleição de John Quincy Adams, em 1876, na eleição de Rutherford B. Hayes, em 1888, na eleição de Benjamin Harrison e em 2000 na primeira eleição de George W. Bush.
Embora
seja de tempos em tempos objeto de controvérsia, o colégio eleitoral
é também considerado uma força estabilizadora do sistema eleitoral. Por razões
variadas, como a dificuldade de emendar a Constituição e a convicção de que ele
contribuiu positivamente para mais de dois séculos de efetiva democracia
representativa, estabilidade social e prosperidade econômica, a verdade é que
depois da tumultuada eleição de 2000 em poucos meses o tema da reforma do
colégio eleitoral já havia desaparecido da agenda pública.