segunda-feira, 22 de junho de 2015

França : Eleição legislativa em parte proporcional – uma promessa de campanha abandonada

            Na campanha eleitoral de 2012, o presidente François Hollande, então candidato, lançou um documento contendo 60 promessas de campanha. Na promessa nº 48, comprometia-se a promover a implantação do sistema proporcional para a eleição de uma parte das cadeiras da Assembleia Nacional (Câmara dos Deputados francesa).
            Ocorre que, passados três anos, a promessa não apenas não foi cumprida como foi claramente abandonada, como se pôde constatar pelo teor da declaração proferida no dia 6 deste mês pelo porta-voz do governo, Stéphane Le Foll, num programa de televisão : “Não chegou o momento de nos engajarmos por uma eleição em parte proporcional, porque não acredito que essa seja a expectativa dos franceses”.
            No entanto, há não mais do que dois meses, o próprio presidente francês afirmou, também na televisão, que a ideia ainda permanecia viável, vislumbrando o ano de 2016 como um horizonte possível para sua adoção (as próximas eleições legislativas na França ocorrerão em 2017).
            A proposta é apoiada por partidos pequenos, tanto de esquerda quanto de direita. Atualmente, o sistema eleitoral para eleição dos deputados na França é majoritário uninominal – que nós no Brasil chamamos de distrital. O país é dividido em tantos distritos quantos são os deputados a eleger, e cada distrito elege um deputado. Essa eleição na França hoje é feita em dois turnos, sendo que o requisito para participar do segundo turno é ter obtido ao menos 12,5% dos votos válidos no primeiro turno (o que significa que mais de dois candidatos podem ir para o segundo turno).
Esse sistema, introduzido pelo General De Gaulle em 1958 para pôr fim à instabilidade que marcou a IV República, favorece decisivamente os grandes partidos, e tem por objetivo constituir uma maioria sólida e disciplinada na Assembleia Nacional. Seu principal inconveniente é deixar sem representação partidos que têm um certo peso eleitoral, mas não o suficiente para vencer a eleição majoritária.
Para os opositores da mudança, o sistema proporcional levaria à instabilidade e à fragmentação da maioria. Por essa razão, a proposta de François Hollande não contemplava a mudança para todas as cadeiras, mas apenas para uma pequena parte delas, entre 10 e 20%. Como a Assembleia Nacional tem no máximo 577 deputados, isso representaria entre 58 e 116 cadeiras.

Uma dificuldade prevista para a adoção do novo sistema é que os distritos eleitorais para eleição dos deputados teriam que ser redesenhados. Além disso, parte dos constitucionalistas do país tem posto em dúvida a constitucionalidade da coexistência de dois tipos de deputados, uns eleitos pelo sistema majoritário e outros pelo sistema proporcional.